terça-feira, 25 de agosto de 2009

BIRA LARGA NA FRENTE


Mais que o cumprimento de uma mera formalidade, os procedimentos de inscrição dos candidatos a presidente e das chapas à nova direção do PT é um termômetro de como andam a mobilização, a organização e o apoio político das bases aos postulantes. A partir desses critérios, pode-se dizer: Bira do Pindaré e a chapa Unidade Petista largaram na frente nas eleições do PT.

É o que mostram os dados preliminares das incrições para o PED, o Processo de Eleições Diretas do PT. Ontem (segunda-feira, 25/8), às 20h, encerrou-se o prazo para a incrição de candidatos a presidente e das chapas à Direção Estadual do Partido dos Trabalhadores.

Seis candidatos a presidente se inscreveram. Sete chapas se apresentaram para disputar as 49 vagas do diretório estadual - presidente e líder da bancada na Assembléia Legislativa, contam em separado para completar os 51 membros no total.

Um dos critérios para inscrever os candidatos a presidente é a apresentação de um abaixo-assinado de pelo menos 0,1% do total dos filiados no estado. O Maranhão tem 26 mil filiados, segundo lista de aptos a votar. Então, cada candidato precisaria ser subcrito por pelo menos 27 filiados. Dois seis inscritos, Bira foi o com maior respaldo, foi apresentado por 327 filiados.

Atrás de Bira, com 327 apoios, vieram:
Rodrigo Comerciário, com 110 filiados subscrevendo sua candidatura;
em terceiro, Raimundo Monteiro, com 92 filiados;
em quarto, Augusto Lobato, com 60 filiados;
em quinto, Edmilson Carneiro, com 36 filiados;
em sexto, Fransuíla Farias, com 32 filiados.

Quatro surpresas nas inscrições a presidente: (1) não sendo o favorito, Bira sair na frente nessa preliminar; (2) sendo o primeiro a se lançar, Augusto Lobato reunir menos de 1/5 do que Bira arregimentou, (3) Rodrigo Comerciário superar Raimundo Monteiro em apoios, saindo na frente dentre os 04 candidatos do campo da CNB (tendência Construindo Um Novo Brasil/ex-Articulação); e, por último, o próprio fracionamento da CNB, em 04 candidaturas, o que evidencia a falta de liderança de Monteiro dentro da tendência. Ou seria uma estratégia da CNB, dividir (no pirmeiro turno) pra somar(no segundo turno)?

Assim ficam,então, demarcadas as posições internas em relação à presidência do PT:

Bira do Pindaré, reunindo as tendências Luta Solidária, Democracia Socialista, Tendência Marxista e os apoios de Manoel da Conceição e dos dirigentes da Executiva Estadual do PT Silvio Bembem, Márcio Jardim, Franklin Douglas e Silvana Brito;

Rodrigo Comerciário, abrindo uma dissidência no campo da CNB;

Raimundo Monteiro, candidato da maioria da CNB e com o apoio do deputado federal Washington Luiz e dos dirigentes da Executiva Estadual do PT Rose Frazão e José Inácio;

Augusto Lobato, reunindo a Democracia Radical, PT de Aço e Articulação de Esquerda e dos dirigentes da Executiva Estadual do PT Domingos Dutra, Ricardo Ferro e Terezinha Fernandes;

Edmilson Carneiro, abrindo uma dissidência na CNB e com o apoio do secretário do governo Roseana Sarney, José Antonio Heluy;

Fransuíla Farias, vereadora de Balsas e também em dissidência na CNB e com apoio do dirigente da Executiva Estadual do PT Mundico Teixeira.

Na CNB, a divisão está mais na disputa pela vaga de deputado estadual (à exceção de Rodrigo Comerciário que busca se viabilizar candidato a deputado federal), do que na diferença de concepção sobre o PT maranhense. As teses devem demonstrar isso. No PT, cada candidato é obrigado a apresentar um texto com o projeto de idéias para o partido a ser trabalhado na próxima gestão.

CHAPAS
Na disputa para a direção estadual, a novidade é a chapa sem cabeça do deputado Domingos Dutra. Ele lidera a chapa "Em defesa da nossa história", diferenciando-se da chapa apresentada por Augusto e Jomar. Pelo critério de quantidade de municípios e capacidade de preencher a quantidade de vagas em disputa, a chapa de Dutra é a terceira mais forte, com 93 candidatos à Direção Estadual e espalhada em quase 70 municípios. Fica atrás de "Unidade Petista"- com 124 candidatos e mais de 60 municipios e "Josué Pedro-Construindo um novo Maranhão", com 96 candidatos e mais de 50 municipios.

Foram sete as chapas registradas para as 49 vagas a Direção Estadual, 08 vagas ao Conselho de Ética e 08 vagas ao Conselho Fiscal (que podem ser acrescidas de 1/3 de suplentes e no mínimo 30% de cotas às mulheres). Há ainda a lista de inscritos para delegados/as ao Congressso Estadual do Partido.

Unidade Petista (com Bira-presidente) - 124 candidatos;
Josué Pedro-Construindo um Novo Maranhão (com Monteiro-presidente) - 96 candidatos;
Em Defesa de nossa história (sem cabeça pra presidente) - com 93 candidatos;
Amanhecer na luta (com Augusto-presidente) - 81 candidatos;
A força vem da base (com Edmilson-presidente) - 68 candidatos;
Renovar é preciso (com Rodrigo Comerciário-presidente) - 46 candidatos;
Construindo a mudança no Maranhão (com Fransuíla-presidente) - 25 candidatos.

Comissão do PED
No próximo sábado, a Comissão do PED deve se reunir para analisar pormenorizadamente os documentos de inscrição. E tornar oficial as informações dos inscritos para o cumprimento de prazo de impugnação e substituições, além de eleger o seu coordenador.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Nova enquete no Blog do Treze

Nova enquete no Blog do Treze. Na sua opinião, qual deve ser a tática eleitoral do PT-MA para governador em 2010?

As alternativas são:
- Apoiar o candidato a governador do PMDB (Roseana ou Lobão);
- Apresentar um nome do PT para governador (Bira ou Dutra);
- Coligar-se com PCdoB e PSB e apoiar Flávio Dino para governador;
- Coligar-se ao PDT e apoiar Jackson Lago para governador;
- Aliar-se ao PSDB, apoiando Roberto Rocha para governador

E ai, qual a sua opinião? Deixe seu voto na enquete.

UNIDADE PETISTA para dirigir o PT do Maranhão

Jantar em apoio a Bira para presidente do PT...


... reuniu expressivo número de filiados...


... simpatizantes...



... lideranças dos movimentos rurais...


... do movimento sindical urbano (como sindicalista dos Correios)...


... intelectuais (como Wagner Cabral) ...

...de partidos politicos como PSB (com a presença de Marcelo Tavares)...


... PDT...


...PCdoB...



... Bira recebeu o apoio de vereadores do PT, como Deutz, de Santa Inês ...


... de Franklin Douglas...



... Silvio Bembem...


... Marcio Jardim...



... de Manoel da Conceição, primeiro filiado do PT no Brasil...


...o jantar prestou homenagem a César Teixeira, quando todos cantaram Oração Latina, junto com o cantor Celso Brandão ...


... Chico Nô ...



... e o poeta popular, Moisés Nobre.



Uma noite de festa da militância petista, onde a UNIDADE PETISTA se constrói com Manoel da Conceição, Franklin, Bembem, Marcio Jardim com Bira para presidente do PT


DISCURSO PELA UNIDADE PETISTA
De Franklin Douglas
"Boa noite a todos, boa noite a todas!

Boa noite aos meus convidados.
Nos [Encontros do PT], como diz Marcio [Jardim], o discurso da gente é tão bom que muda opinião, mas não muda os votos nas reuniões. A gente, então, vale o número de eleitores que leva ao PED. Então, aos meus convidados, um boa noite especial.

Através dos companheiros Marcio Jardim e Silvio Bembem, cumprimento todos os petistas que estão organizados nas tendências DS(Democracia Socialista), TM(Tendência Marxista), LS(Luta Solidária), militantes da AE(Articulação de Esquerda), MPT(Movimento PT), Rebuliço e aos militantes aqui presentes que não estão em tendência alguma e são sobretudo PT.

Através do Manoel da Conceição, cumprimento a todos os militantes dos movimentos sociais aqui presentes. Através do Bira, cumprimento a todos da mesa, o Julião Amin-PDT, o Marcelo Tavares-PSB, Emilio Azevedo-PCB, Gérson Pinheiro-PCdoB, vereaores Geraldo e Rose Sales-PCdoB)

Enfim, boa noite.

Pessoal,

O meu discurso desta noite será um discurso curto, direto e afirmativo.

Hoje, diferente de como faço constantemente no meu blog, o Ecos das Lutas, eu não cobrar do PCdoB, do Flavio Dino um artigo no Jornal Pequeno sobre a crise do senado. Não vou exigir do Flavio Dino um discurso na tribuna da Câmara contra o Sarney.

Neste meu discurso, não vou cobrar do Julião Amim uma autocrítica do PDT, por que o Jackson já fez, mas o PDT ainda não, de ter deixado nos escapar uma oportunidade tão preciosa que foi a vitória da Frente de Libertação, pelos erros que sabemos quais, pelas opções de 2008 que sabemos quais...

Não vou cobrar a coerência das outras chapas que concorrem conosco, nem da que quer o PT com o PMDB, desfigurando a história do PT-MA, nem da que foi derrotada pelos tucanos em 2008, mas quer aliar o PT ao PSDB em 2010.

Não vou fazer esse discurso. e por que não?
Não é porque eu virei “frankinho paz e amor” não ...

É porque eu estou elevando a minha alma, o meu coração e a minha mente ao tamanho do desafio e da responsabilidade que nós temos neste momento histórico com o Maranhão e com o Brasil.

Quando escrevi o artigo, em maio, chamado UM PT PARA ALÉM DO PED, em que deveríamos reinventar a nossa maioria no PT, eu estava sinalizando mais do que a disputa pelo espólio da era Dutra, mais do que a disputa pelo legado de Dutra, que não deixou esse partido ir para o sarneismo.

É porque entendo que é a hora do salto de qualidade. O salto que deu o PT do Pará. O salto que deu o PT do Piauí. E esse salto só é possível se buscarmos a verdadeira unidade petista. A unidade do PT, do projeto para o nome, e não do nome para o projeto. Que construa a unidade das oposições maranhense contra a oligarquia.

E quem quer a unidade não pode se pautar pelas divergências, mas pelo que soma, não pelo que divide. Por isso meu discurso hoje marca uma ruptura com o retrovisor do carro, porque eu quero agora é olhar pra frente!

Por isso, quando Marcio Jardim, Silvio Bembem e eu, que podíamos perfeitamente, por termos uma postura interna mais radicalizada, abrimos mão de construirmos uma candidatura de um de nós à presidência do PT, uma chapa conjunta para ter os nossos carguinhos na Executiva, quando fizemos isso, é porque a gente acredita que é possível construir em torno do Bira, as novas bases de uma nova maioria e de uma nova unidade petista.

E ai minha candidatura de deputado, de Bembem, de Marcio Jardim, vira coisa pequena, e a ocupação de espaço na Executiva para esses nossos projetos eleitorais vira coisa menor diante desse futuro que podemos construir.

A opção de construir essa chapa é porque acredito piamente que se unificarmos o PT, o que não quer dizer unanimidade – já dizia o Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra -, se unirmos o PT, nós podemos ousar unir as oposições maranhenses ...

Aqui nesta mesa, se formos competentes, podem construindo a eleição tanto do futuro governador do estado quanto dois futuros senadores do Maranhão! Aqui pode estar nascendo a maior vitória que a luta dos trabalhadores já pode ter sonhado no Maranhão. E é esse o projeto que nos une. Para além das demarcações de nossas tendências.

É porque o sonho não acabou, que queremos a unidade do PT.

É porque por o sonho não acabou, que convocamos cada um de vocês para essa campanha.

É porque por o sonho não acabou, que estamos com Bira, presidente do PT!

E como dizia Raul Seixas, sonho que se sonha só é apenas um sonho, mas o sonho que se sonha junto, vira realidade.

VIVA A UNIDADE PETISTA!
VIDA A UNIDADE DA OPOSIÇÃO!!
VIDA A LIBERDADE DO MARANHÃO!!! "
(*) discurso proferido na abertura do jantar de apoio a Bira - presidente do PT

COMEÇA O PED

No último sábado (4/7), a corrente PT de Aço - liderada pelo deputado Domingos Dutra - bateu martelo: vai com Augusto Lobato nas eleições internas do PT.

A decisão, a quase dois meses de distância do registro das chapas, acelera o processo de movimentação das forças internas do partido.

Dutra não tinha escolha. Mesmo numa plenária em que houve a ausência de importantes quadros militantes de sua tendência e onde boa parte se absteve entre as opções "Augusto - presidente" e "liberar para presidente" , calculou que o menos pior seria impor a candidatura Augusto.

Entre perdas e ganhos, Dutra também deve ter mensurado o peso da saída de Márcio Jardim de sua chapa. Jardim declarou-se fora da composição Dutra-Augusto e constroi aproximação com a chapa em torno de Bira-presidente.

E por que tanta pressa?

Como em política tudo é uma questão de gestos, Dutra entendeu muito bem o convite para um jantar de lançamento que Augusto passou a circular, às vésperas e na reunião do Diretório Estadual (06/7), tornando sua candidatura a presidente irreversível.

No convite, entre as várias lideranças listadas como presentes ao jantar (boa parte nem sabe que está listada, diga-se de passagem), há um recado bem dado: a presença anunciada dos deputados Washington Luiz e Helena Heluy, e a ausência de lideranças partidárias como Bira do Pindaré (direção nacional do PT) e dirigentes da Executiva Estadual como Franklin Douglas (DS), Marcio Jardim (MPT) e Silvio Bembem (TM).

Para bom entendedor, meio-convite basta. Dutra entendeu...

Se tinha amarrrado para si o apoio de Terezinha e Jormar Fernandes, faltava a Augusto o apoio decisivo de Dutra para sair da crescente pressão que vinha sofrendo pela unidade do campo "não-sarneysita" em torno de Bira, e viabilizar sua candidatura. Agora, candidato dutrista, Augusto ganha musculatura e passa de isolado a franco-favorito no PED.

Racha coloca CNB no jogo.
Com o racha precipitado no campo da atual maioria no PT-MA, tende a ficar mais ou menos assim a largada para a disputa no PED petista: com Augusto Lobato (da Democracia Radical), seguem PT de Aço e Articulação de Esquerda; com Bira do Pindaré (da Luta Solidária), seguem Tendência Marxista-TM, Democracia Socialista-DS e Movimento PT de Marcio Jardim;

Em disputa, alguns núcleos independentes e de organização regional, os "rurais" e o deputado Valdinar Barros.

Quem passa a sonhar com o segundo turno é a CNB, de Washigton e Helena, provavelmente com Fernando Magalhães-presidente.

Por fora, corre o Rodrigo Comerciário, sob pressão para desistir e apoiar Augusto ou recompor com a CNB.

De novo, os nomes primeiro. Depois, os projetos. Parece que é essa é sina da disputa petista. Resta saber se, nas teses, as forças internas apresentarão claramente seus projetos para o PT-Maranhão. Ou vão ficar apenas no soma-soma das garrafinhas!

Começou pra valer o PED petista...


(*) texto elaborado originalmente em 07/jul/2009.

domingo, 9 de agosto de 2009

Um PT para além do PED

Por Franklin Douglas
1. Redefinir o projeto do PT para o Maranhão é condição sine qua non para a rearticulação do campo da oposição de esquerda, que não tenha qualquer interface com a velha oligarquia. Este é o principal desafio do Partido dos Trabalhadores do Maranhão na atualidade. Sua capacidade de se reinventar é sua única possibilidade de sobrevivência. Uma agenda de debates que está para além do Processo de Eleições Diretas (PED), a ser realizado em no final deste ano.

2. Para tanto, (1) é necessário entender como se dá a correlação de forças no estágio atual da luta de classes no Maranhão; (2) é preciso saber compreender o que foi o governo Jackson Lago; (3) é imperativo retomar o processo histórico maranhense das disputas eleitorais recentes.

3. Como já frisáramos anteriormente, entender a vitória da Frente de Libertação era ter a consciência de que ela não foi um ponto de chegada, mas um ponto de partida. A oligarquia Sarney não estava derrotada por conta de sua derrocada eleitoral de 2006. Esse erro de avaliação gerou dois outros: de um lado, o daqueles que acreditavam que já tínhamos alcançado o pós-sarneismo. E, por conseguinte, estava dada a polarização político-ideológica entre os projetos tucano versus esquerda, e não que ainda permanecia a polarização real e concreta entre as posições sarneismo versus ante-sarneismo. Deram por morto o mais vivo dos oligarcas do País. Aquele que até em Lula deu drible, e derrotou, no Senado Federal, o PT de Tião Viana e Idely Salvatti.

4. O segundo erro, do outro lado, foi cometido por aqueles que, também achando que o sarneismo já era, poderiam apropriar-se das bases da velha oligarquia e com ela instaurar um outro bloco histórico de superação da antiga ordem. Com este erro, ressuscitaram projetos locais decadentes, cometeram as mesmas práticas viciadas do exercício do poder e se afastaram da opinião pública livre e dos movimentos sociais democráticos. Alguns atores da Frente de Libertação, inclusive, conseguiram cometer os dois erros ao mesmo tempo.

5. Destes dois erros fundamentais decorreram vários outros. O que culminou com a cassação do mandato de Jackson Lago no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a volta biônica - mesmo sem Palácio, e sem povo - de Roseana Sarney ao Governo do Maranhão. Subestimaram o adversário.

6. O governo Jackson Lago está longe de ter sido uma experiência neoliberal, como algumas forças políticas locais tentam caracterizá-lo. Equívoco. O neoliberalismo sustenta-se na tese do Consenso de Washington, "Estado mínimo", privatizações, desmonte do serviço público, refilantropização das políticas sociais, criminalização da questão social e de seus protagonistas em luta (movimentos pela direito à terra, trabalho e moradia, por exemplo).

7. Não foi isso o que se viu no Maranhão de 2007 a 2009. Ao contrário: não houve a retomada das privatizações do tempo de Roseana; foi criticado por ampliar o número de secretarias, sobretudo a de Direitos Humanos, Mulheres, Igualdade Racial; a Assistência Social (o SUAS), o combate ao analfabetismo e o direito à educação, a Segurança Cidadã e a Cultura, por exemplo, seguiram rigorosamente a cartilha das políticas cidadãs do governo federal.

8. A sua condição - e contradições - de governo de coalização foi análoga à do governo Lula, ressalvando que no governo Jackson tinha pouca força em seu núcleo dirigente, as forças populares que contribuíram para a vitória da Frente em 2006. O condomínio da Frente de Libertação - termo cunhado pelo professor Wagner Cabral - cabia a todos. Uns com mirante. Outros, sem eira nem beira...

9. O PT não tem qualquer compromisso com a defesa das práticas viciadas operadas pelos personagens conservadores da coalização governista. Não somos herdeiros das práticas clientelistas, mandonistas e patrimonialistas que subsistiram na gestão. Como elaborou o professor Francisco Gonçalves, sarneismo sem Sarney não é o horizonte da esperança e nem das transformações políticas desejadas pela maioria da população maranhense. Pelo contrário, o PT no governo tensionou a todo momento, no limite de suas forças, a ampliar a participação dos movimentos sociais na gestão. Exemplo maior foi a construção dos Fóruns Participativos no Alto Turi, Baixo-Parnaíba, Cerrado-Sul e dos Povos da região pré-amazônica, envolvendo os movimentos de 104 municípios na organização de uma pauta para o governo. O PT, que até o fim ficou ao lado da defesa do mandato popular dado pelo povo maranhense a Jackson Lago, tem toda a legitimidade para realizar uma análise crítica desta experiência de governo entre 2007 a 2009.

10. A tática eleitoral do partido em 2006 foi correta: no primeiro turno, com Vidigal governador/Terezinha vice (PSB-PT-PCdoB); no segundo turno, com Jackson ao invés de Roseana Sarney. Ocorre que o limite da capacidade de influência do PT foi o seu resultado nas urnas: em 2006, um deputado federal; dois deputados estaduais, duas posições antagônicas na Assembleia Legislativa. Em 2008, o PT de São Luís abriu mão de nosso capital político (acumulado com Bira do Pindaré, na disputa ao Senado) para o PCdoB: nenhum vereador eleito pelo PT, nenhum suplente. Nas demais cidades, Prefeituras de parca influência político-geográfica. Em todo o processo, 42% da direção partidária em boicote aberto à maioria obtida no PED-2005. Um partido dentro do partido, em total dissonância com as instâncias e a democracia interna do PT.

11. Externamente, é obrigação do PT travar o debate ideológico com a juventude, os intelectuais e os movimentos sociais maranhenses, a partir dos erros da Frente de Libertação, sem que isso dê margem a qualquer composição explícita ou tácita com a oligarquia Sarney.

12. As eleições de 2010 tendem a recuar aos cenários da correlação de forças políticas presentes nos embates eleitorais de 1990 (Lobão-PFL x Castelo-PRN x Conceição Andrade e Neudson Claudino-PSB/PDT/PT), 1994 (Roseana-PFL x Cafeteira-PPB x Jackson e Jomar-PDT/PT) e 1998 (Roseana-PFL x Cafeteira-PPB/PDT x Dutra-PT). O único cenário completamente atípico seria a unidade PT-oligarquia (o que nunca ocorreu na história do partido!). Ou seja, para 2010 persistirão os três blocos políticos com perfis ideológicos distintos em disputa: grupo Sarney versus oposição conservadora versus oposição de esquerda.

13. Desde o primeiro turno em 2010, o lado do PT tem que ser a defesa do governo Lula, da candidatura Dilma, os movimentos sociais como protagonistas da luta democrática, do Maranhão livre da oligarquia. Este é o sonho que nutre nossa luta (para ganhar ou perder eleições).

14. Internamente, corrigir erros também significa começar evitando que a direção partidária que emergirá do PED-2009 dirija sob emboscadas. Por isso, urge reorganizar a maioria que se dispõe a dirigir o partido nos próximos anos. Os nomes para a presidência e para os cargos na direção devem ser consequência, e não ponto de partida. E sob pontos basilares que consigam incorporar todos os setores do partido que se colocam contrários a qualquer aproximação com o esquema Sarney. O consenso é impossível. Mas uma nova maioria é possível. Sob pactos transparentes e claros, aberto a críticas e autocríticas. Para isso, dentre outros aspectos, é fundamental:

15. Unificar o partido em torno de uma tática eleitoral do partido para 2010 e a construção de um projeto que rearticule as nossas bases partidárias nos municípios e coloque PT como expressão das demandas dos movimentos sociais desde agora em 2009.

16. Construir a candidatura própria do PT ao Governo do Estado, buscando a ela ampliar com as forças sociais e partidárias que assumam os pressupostos do projeto formulado pelo PT. Neste contexto, Bira do Pindaré seria o nosso melhor nome. É conhecido. Não paira dúvidas sobre sua posição anti-Sarney ao longo desse processo. Amplia para os setores com os quais necessitamos dialogar. O Senado pode ser um projeto individual que beneficie coletivamente o PT. Mas o governo torna-se um projeto coletivo que reoxigena o indivíduo e o partido - agora e para frente (se não for vitorioso desde logo). Se é impossível ter o Bira, devemos buscar esforços por construir um nome que expresse esse movimento. Nenhum candidato do PT, ainda que sozinho, terá em 2010 menos votos do que tivemos em 2002 (7% dos votos) – percentual que define qualquer rumo do Maranhão num segundo turno...

17. Os tempos não são difíceis para as forças populares, pelo contrário, são férteis. Apenas nos falta exercitar a capacidade de fazer política, sem contudo tergiversar à direita: seja para o projeto tucano (sarneismo sem Sarney), seja para o projeto PMDB-democrata (autenticamente Sarney)!
(*) artigo elaborado originalmente em maio de 2009.

De volta ao Blogue do Treze

Estamos de volta com o Blog do Treze. Motivamo-nos sobretudo pela necessidade de garantir o trânsito de todas as versões sobre a disputa interna do partido no fim do ano, quando do Processo de Eleições Internas, o PED.

Assim, fica desinformado quem quer, não por falta de um instrumento para tal. É o que almejamos.

Nesta nova etapa do blogue do treze, uma sugestão especial. Ao lado, criamos a coluna "Outros (blogues) petistas (maranhenses). Assim, você pode acessar rapidamente o blogue de outros companheiros do partido e conhecer outras versões sobre a disputa interna do PT. Aceitamos sugestões de novos links.

Bem-vindo(a), ao Blog do Treze.

domingo, 18 de janeiro de 2009

PT em movimento

PAULO TEIXEIRA EM SÃO LUÍS

O deputado federal Paulo Teixeira (PT/SP) visita São Luís nesta segunda-feira (19/01). Dá entrevista na rádio Educadora, às 9h, e realiza reunião com a militância local do partido, a partir das 11h, na sede do Diretório Regional (Rua do Ribeirão - Centro). Paulo Teixeira é um dos candidatos à liderança do PT na Câmara dos Deputados, pelo campo de deputados em torno da corrente "Mensagem ao Partido".

Visita x PED2009
Teixeira, na disputa interna partidária, é um dos principais líderes do agrupamento "Mensagem ao Partido", que reúne petistas como Tarso Genro, Raul Pont, Eduardo Cardozo, Joaquim Soariano, Marcio Pochmann e outros. O agrupamento surgiu no PED de 2007, a partir da abertura da tendência Democracia Socialista a outros grupos internos, da aproximação com o Ministro Tarso Genro e da candidatura do deputado Eduardo Cardozo à presidência nacional do partido.

No Maranhão, a Mensagem inclui tanto petistas da Democracia Socialista - DS (Franklin Douglas, Balbina Rodrigues, dentre outros) quanto da Democracia Radical - DR (Augusto Lobato, Ricardo Ferro, dentre outros).

Para o próximo PED, a Mensagem discute a incorporação da TM(Tendência Marxista). No Maranhão, TM é liderada por Silvio Bembem. É o PED-2009 em pleno curso...



I - ENCONTRO INSTITUCIONAL DOS VEREADORES E VEREADORAS DO PT-MA

No dia 07 de fevereiro (sábado), acontece o primeiro Encontro Institucional dos Vereadores e Vereadoras do PT no Maranhão. Será no auditório do jornal O Imparcial, das 8h30 às 18h. O Encontro foi agendado em dezembro passado, no IV Encontro Institucional do Partido.

Neste Encontro dos Vereadores do PT, o objetivo é debater temáticas voltadas especificamente à ação dos vereadores/as eleitos e reeleitos pelo PT. Para confirmar sua presença, os parlamentares devem entrar em contato com a Secretaria de Assuntos Institucionais do PT-MA pelos fones 3221-1842/9962-8181 ou pelo email franklindouglas@elo.com.br.

Um dia antes, o Coletivo Institucional do Partido deve ser reunir para debater sua agenda de atividades.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Lula NA Piauí

Confira abaixo a íntegra da entrevista exclusiva concedida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à revista Piauí, publicada na edição nº 28, na primeira semana de janeiro de 2009. O conteúdo foi disponibilizado no saite do Jornal O Globo(10/01/09).


01. Piauí: Presidente, é o seguinte: eu queria saber... o senhor está com a imprensa aí há quase 40 anos na sua cola. Estando no Planalto, muda a sua relação, piora, o senhor sente que a imprensa é melhor ou pior do que o senhor achava antes ou não?
Lula: Eu não vejo, Mário Sérgio, melhora ou piora na imprensa. Eu acho que a imprensa brasileira tem um comportamento, que não é um comportamento de agora, é um comportamento histórico. Eu, por exemplo, sou um cidadão brasileiro que nunca tive a grande mídia brasileira com preocupação de fazer coisas favoráveis a mim, e nunca me preocupei muito com isso, porque antes de tudo eu acredito na inteligência de quem assina uma revista, de quem assina jornal, de quem vê televisão e escuta rádio. Possivelmente, ainda tenha gente inocente, que acredita que tudo o que ele fala, tudo o que ele escreve é recebido pelo leitor como a verdade mais absoluta, ou seja, ele não acredita na capacidade de análise do leitor, que pega uma matéria e percebe se há má fé, se não há má fé, se a matéria está informando corretamente ou se não está informando corretamente. Hoje a informação é muito plural, não tem mais apenas a informação de tal revista, a informação de tal jornal. A informação é veiculada por diferentes fontes. Então, quando o cidadão pega o jornal de manhã, aquela matéria ele já viu na televisão, ele já ouviu no rádio, ele já viu em vários blogs (incompreensível) diferentes, então aumenta a capacidade de interpretar do cidadão que lê.


02. Piauí: Agora, o senhor falou uma vez, eu fiz uma matéria com o senhor, eleição municipal 2000, 2001. A gente percorreu várias cidades, uma semana, dez dias. Eu, o senhor, tinha mais gente, o Zé Dirceu... Mas aí o senhor... a relação que o senhor tinha com a imprensa, eu observava, o senhor todo dia lia o jornal no avião, lia a parte de esportes. O senhor comentava comigo, o senhor comentou duas vezes comigo: "olha, esse Painel, petista adora o Painel da Folha, até o Kennedy Alencar, eles botam nota". O senhor tinha uma coisa que curtia a imprensa, o senhor achava, vamos dizer, engraçado. O senhor disse: "se eu tivesse até mais tempo - eu me lembro disso - se eu tivesse mais tempo eu lia isso com mais vagar". Hoje o senhor tem tempo, o senhor curte mais, curte menos, como é que é hoje?
Lula: Bem menos, bem menos.


03. Piauí: Isso melhora a sua vida ou não?
Lula: Não, acho que melhora. Eu fui deputado e eu sei como é que muita gente passava matérias para o Painel da Folha, para o Informe JB, para aquele negócio do Estadão. Você sabia quais os deputados que ficavam procurando jornalista, você conversava com um cara aqui e daqui...


04. Piauí: Sabia o que era plantado...
Lula:... sabia o que era plantado e o que não era plantado. Eu sempre dizia que no PT, às vezes uma matéria que saía em um informe qualquer, ou no Painel, era mais vista do que uma matéria do Jornal Nacional. Eu falava isso em tom crítico, porque eu queria mostrar o lado mais intelectualizado da Direção do PT, que não via o que passava no Jornal Nacional, que é o que o povo vê, e via o Painel, que é uma coisa que o povo não lia.


05. Piauí: O senhor nunca foi político de fazer esse tipo de ação, vamos dizer, o senhor nunca foi fonte de jornalista, o senhor nunca...
Lula: Não gosto, não gosto de ser fonte, porque eu acho que você estabelece uma relação promíscua com o jornalista, com o jornal, com a revista, com a televisão. Se você passa a ser uma espécie de informante privilegiado... no caso do mundo policial, isso seria informante. No mundo jornalístico é mais chique, você passa a ser fonte. Então, é o cara que planta laranja para colher manga, é o cara que planta manga para colher limão...


06. Piauí: : O senhor não acha que isso é válido também?
Lula: Eu não acho, eu não acho. Você sabe por que eu não acho? Eu não acho correto as pessoas se esconderem em nome de uma coisa fictícia, que é uma fonte. Você pode ter jornalista sério, que tem uma fonte verdadeira e, portanto, ele coloca uma matéria, e aí não é plantada, é uma matéria que alguém disse. E você tem o cara que, quem sabe, se levanta um dia, por falta de informação melhor ele planta uma fonte, e em nome da fonte ele publica o que ele quiser. Eu, sinceramente, não acho isso a coisa mais nobre da imprensa brasileira...


07. Piauí: O senhor lê jornal hoje?
Lula:... até porque eu gostaria que a fonte fosse mais digna e pudesse dar o nome: eu, Mário Sérgio, penso tal coisa do Franklin; o Franklin pensa tal coisa do Lula, e assim o mundo seria muito mais verdadeiro e menos falso. É nisso que eu acredito.


08. Piauí:: O senhor lê jornal hoje, Presidente?
Lula: Eu leio menos do que deveria, e converso mais do que preciso.


09. Piauí: Mas o senhor tem o hábito, de manhã o senhor pega o jornal...
Lula: Tenho não, eu não tenho isso faz tempo, faz tempo. Não é que não dá, é que eu não quero fazer.


10. Piauí: Ah, não quer...
Lula: Eu tenho problema de azia. Eu me cuido profundamente, para não perder o humor logo cedo. Eu começo a minha atividade política tendo meia hora de conversa com o Franklin sobre a imprensa brasileira. Eu tinha com o Ricardo Kotscho, eu tinha com o André Singer, fazia uma avaliação da imprensa, as principais coisas, o que estava rolando no mundo político, o que estava rolando no mundo econômico. A partir daí tem a minha conversa diária...


11. Piauí: E televisão, o senhor vê?
Lula: Raramente.


12. Piauí: Raramente?
Lula: Porque não tem tempo. Raramente. Eu chego em casa muito tarde.


13. Piauí: Mas e quando o Franklin, ou o Ricardo ou o André, diz "olha, o senhor precisa ler tal artigo ou tal documentário"?
Lula: Aí ele me traz o artigo. Aí me traz o artigo para ler, às vezes tem coisa boa na televisão e eles me trazem vídeo para eu ver, às vezes eu vejo no avião quando estou viajando.


14. Piauí: Isso não dá para o senhor a impressão de que o senhor pode ter uma visão distorcida, sem (incompreensível)... o senhor não fica muito na mão do assessor?
Lula: Mas é muito melhor ficar na mão de um assessor em que eu confio do que na mão de um artigo que eu não conheço o jornalista. Então, eu prefiro conversar com alguém que eu recruto, da maior seriedade, e que me dá as informações corretas.


15. Piauí: Mas saber o que está acontecendo no País e no mundo com a população, não é bom o senhor ler (incompreensível)?
Lula: Um homem que conversa com o tanto de pessoas que eu converso por dia deve ter uns 30 jornais na cabeça todo santo dia. O que acontece? Em cada conversa que você tem com uma pessoa, surge o assunto do dia, seja ele da economia, seja ele da agricultura, seja ele da política. Não há hipótese de um Presidente da República ser desinformado sobre as coisas mais importantes que acontecem no Brasil.
Agora, o que acontece é que muitas vezes você tem coisas que deformam a notícia. Por exemplo, quando nós lançamos o programa para o povo comprar material de construção com desconto, um jornal importante no Brasil publicou "Lula faveliza o Brasil". Ou seja, é uma concepção distorcida de um cara que possivelmente não tem a menor noção do que significa as pessoas mais pobres terem acesso a comprar material de construção mais barato e poder fazer a sua casa, reformar, fazer a sua garagem, fazer seu puxadinho.
Quando eu fiz o programa Bolsa Família, as matérias que saíam deles, analistas, eram de que isso era assistencialismo. Ou seja, as pessoas muitas vezes têm a sua formação ideológica, tem a sua tese sobre as coisas. O que eu às vezes não concordo é que as pessoas, em vez de publicarem um fato como ele é, contra ou a favor, não importa, as pessoas colocam apenas aquilo que pensam sem se importar com o fato como ele é. Apesar de que eu acho que cada um pode ter sua opinião, cada um pode falar o que quiser



16. Piauí: Agora, saber de opiniões não lhe dá uma dimensão melhor do país?
Lula: Não, eu fico sabendo de muitas opiniões. Você pode ficar certo de que quando um jornalista importante escreve um artigo que fala do governo ou fala da economia, eu fico sabendo tão rápido quanto ele, que escreveu. A verdade é a seguinte: eu tenho uma tese hoje sobre os meios de comunicação. Eu acho que os meios de comunicação hoje estão muito mais democratizados e estão muito mais independentes... A informação está muito mais independente do que ela era antes. A possibilidade que o povo tem de receber as coisas é infinitamente maior do que em qualquer outro momento da história do nosso país.
Eu acabo de dar uma entrevista às 9h05, às 9h06 já está tudo que eu falei na internet, está tudo. Aconteceu uma coisa na Venezuela, aconteceu uma coisa com o Obama, já está tudo na internet, você não tem que esperar o jornal do dia seguinte.


17. Piauí: Quer dizer, o jornal perdeu poder?
Lula: Eu acho que, na verdade, todos perderam poder. Todos. Do ponto de vista...


18. Piauí: E o senhor acha isso bom?
Lula: Eu acho que isso democratiza demais as informações, porque também você tem 300 blogs. Você tem muita gente importante com blog, você tem as agências. Então, a quantidade de informação que você recebe em tempo real vai deixando tudo que demora 10 minutos obsoleto. Ou seja, tudo que demora: então o jornal fica mais obsoleto. Aliás, o próprio jornal se torna obsoleto, porque ele publica as matérias de amanhã hoje. Você quer saber o que vai sair na Folha amanhã, você já vê na internet hoje. Você quer saber o que vai sair no Estadão, você já vê na internet hoje. Você acompanha a Veja, que sai no sábado, na quinta-feira já pela internet, você acompanha... Então, há uma facilidade enorme e isso tornou a informação muito mais independente. Eu acho que alguns companheiros da imprensa não descobriram isso, porque continuam agindo como se estivessem 40 anos atrás.


19. Piauí: O senhor pede para ver blog, o senhor pede para ver site na internet?
Lula: Deixa eu te falar: eu recebo muita informação, porque tenho muita assessoria. Eu recebo do Franklin, eu recebo da Clara Ant, eu recebo do Gilberto Carvalho. Em cada área que sair uma matéria, você pode ficar certo de que chega o papel na minha mão na hora certa que eu preciso. Por isso é que um Presidente da República não precisa se preocupar em se levantar de manhã e ler quatro jornais, três revistas, ver todos os programas de manhã, porque isso ele vai vendo durante o dia. Aliás, todos os presidentes que eu conheço fazem exatamente o mesmo, ninguém se levanta de manhã preocupado...


20. Piauí: Não, mas a opinião que o senhor tem desses órgãos de imprensa, vamos lá... Há muito pedido de patrão?
Lula: Não.


21. Piauí: Não vem aqui Marinho, Civitta, (inaudível)?
Lula: De vez em quando aparece alguém aqui com um pedido normal de alguém que quer alguma coisa, que quer discutir alguma coisa com o Presidente da República. E eu trato os empresários do meio de comunicação como eu trato os empresários da construção civil, como eu trato os bancos, como eu trato o pessoal do setor siderúrgico, ou seja, é um cidadão que apresenta uma pauta de reivindicação. Por exemplo, quando fomos discutir a TV digital, nós reunimos várias vezes todos os empresários dos meios de comunicação para discutir isso. Eu acho plenamente normal. Eu acho normal que um empresário de meio de comunicação, se precisar de dinheiro emprestado do BNDES, entre com o mesmo pedido como entra uma empresa de construção civil, como entra uma indústria automobilística. É um direito que ele tem de fazer investimento, o Brasil tem um banco que empresta, portanto, ele não deve favor nem ao banco e nem ao País.


22. Piauí: Já tem tido retaliação nisso? O senhor negar um pedido ou o governo negar um pedido e um órgão de imprensa (inaudível) mais contra o senhor?
Lula: Não, porque a análise é eminentemente técnica. Alguém, para pegar dinheiro no BNDES, tem que apresentar um projeto que tenha, eu diria, os fundamentos técnicos corretos e por conta disso, o dinheiro é emprestado. Qualquer empresário de empresa de comunicação que entrar com um pedido de empréstimo, ele vai ser analisado - pode ficar certo - como qualquer outro. O que há, na verdade, é um preconceito da própria imprensa contra a questão da relação dos meios de comunicação com o governo ou com os bancos públicos. Vem um agricultor de qualquer parte do Brasil, vai ao Banco do Brasil e pega dinheiro emprestado. Isso vale para o dono da Record, o dono da Globo, o dono do SBT, o dono da Bandeirantes, o dono da rádio "fulano de tal". Se ele tiver um projeto que seja convincente e aquele projeto seja exeqüível - aquele projeto vai gerar mais empregos, vai gerar mais distribuição de renda - o BNDES ou o Banco do Brasil deve tratar como se fosse um empréstimo comum. O empresário não precisa ficar receoso, porque eu duvido que tenha um governo capaz de querer emprestar dinheiro e pedir contrapartida. Ele seria execrado por todos os outros que não pediram empréstimo. Então, a forma mais segura para os donos dos meios de comunicação é agir com naturalidade, e eu acho que é assim que nós agimos, é assim que age o BNDES. Eu não sei se foi a Record que queria construir um novo cenário para novela, eu me lembro da grande discussão que houve quando a Globo construiu o seu...


23. Piauí: Jacarepaguá, né?
Lula: Eu sempre achei aquilo com muita normalidade. Amanhã, se a revista Piauí quiser fazer uma sede nova, uma gráfica nova e for ao BNDES apresentar um projeto e disser "nós vamos fazer uma gráfica, estão aqui 60 milhões de não sei das quantas, está aqui a garantia, o projeto é exeqüível", eu acho que o BNDES tratará sem se importar com o nome.


24. Piauí: O senhor se magoou muito alguma vez com a imprensa? Eu vou lembrar alguns casos. Primeiro, o caso do seu filho. Ainda na campanha, quando o Paulo Henrique Amorim, na Bandeirantes, o apartamento, não sei o quê, aquilo deixou o senhor muito... O senhor entrou com um processo.
Lula: Deixe-me falar uma coisa. Eu não conheço nenhum cidadão que tenha sangue de barata, a ponto de não ficar ofendido quando você vê um amigo seu, um parente seu ou um companheiro sendo agredido por coisas que são inverdades. A única coisa que eu lamento profundamente é que quando acontece a publicação de uma mentira, quando vem à tona que aquilo era mentira, não seja publicado do mesmo tamanho o desmentido. Ou seja, parece que não há pedido de desculpas nos meios de comunicação no Brasil quando erram. Esse é um defeito que eu tenho dito publicamente: você tem direito de fazer acusações, você tem direito de manchar o nome de uma pessoa, mas você tem direito de pedir desculpas porque ninguém pode ser incriminado antes de ser julgado. O bom da democracia é que você tem um processo de denúncia, um processo de investigação, um processo de julgamento, condenação ou absolvição. Quando você é condenado, você já foi condenado previamente. Quando você é absolvido, isso não aparece. Você precisa ficar o tempo inteiro...


25. Piauí: O senhor acha que na imprensa ocorre muito isso?
Lula: Eu acho que é uma cultura mundial nos meios de comunicação do mundo inteiro. Há uma predisposição, possivelmente do ponto de vista mercadológico, do ponto de vista... Talvez a notícia ruim tenha mais charme para vender um jornal do que uma notícia boa. Uma notícia boa, normalmente é tida como se fosse chapa branca. Se a revista Piauí fizer matérias falando bem do governo, ela vai fazer uma... Bom, fez uma. Se fizer a segunda... Mas se fizer a terceira, pronto: criou o estigma de chapa branca, e aí é melhor ser neutro. Muitas vezes, na neutralidade, você passa a ser contra...


26. Piauí: O senhor, por exemplo, no caso do seu filho quando houve... A Veja falou que havia ligações, não sei o quê... Isso deixa o senhor...
Lula: Deixa, porque foi uma mentira absurda e que somente o processo vai mostrar o que aconteceu de fato. Somente um processo. Essa coisa, não adianta você ficar, também, brigando, dando murro em ponta de faca, porque essa coisa, você tem que entrar na Justiça, deixar que o processo ande... Qual é a principal condenação que eu acho que tem que ter? A Justiça normalmente obriga que a empresa que fez a matéria publique a sentença no mesmo espaço e com o mesmo tamanho de letra que foi publicada a denúncia.


27. Piauí: Mas não funciona.
Lula: Ás vezes funciona. A Folha de São Paulo, quando eu tomei posse em 2003, foi obrigada a publicar uma sentença de um juiz, de um processo que eu abri contra a Folha. Obviamente, quem leu a denúncia, não leu a sentença, porque se passou muito tempo. Mas é uma defesa até da honra.


28. Piauí: E quando o caso é enrolado? Por exemplo, o negócio das telecomunicações. Que envolveu um monte de gente, Daniel Dantas, Zé Dirceu de um lado, Gushiken, jornais (inaudível), jornalistas (inaudível). É um caso enrolado, envolve milhões, bilhões de reais, envolve grandes empresas e envolve a imprensa. O que se faz, enquanto não se tem uma decisão?
Lula: Publica-se apenas a verdade. O que você não pode é insinuar que todo mundo é ladrão sem nenhuma prova, (inaudível) que você quer insinuar. Se você descobre que uma determinada pessoa praticou um delito qualquer, uma fraude qualquer, você faz a denúncia e investiga. O que você não pode é ficar fazendo ilações, ilações e mais ilações. Depois, passa o tempo e você não prova nada contra ninguém, mas ficaram as ilações feitas. A gente poderia pegar exemplos históricos no Brasil. O Alceni Guerra é um deles. A gente poderia pegar a Escola Base, e tantas outras coisas que acontecem. Esses dois foram os casos mais famosos, mas você pode pegar outros casos.
A imprensa tem um papel nobre, que eu acho que é a sustentação da democracia, que é a informação. A partir da informação, muita coisa acontece no mundo: cai governo, entra governo, cai general, entra general, a partir da informação. Agora, quando você transforma essa informação em um instrumento político e começa a fazer ilações sobre isso, eu acho que a nobreza diminui, e aí entra a politicagem, a má-fé.
Durante a campanha eleitoral, eu fui a uma cidade - não vou dizer qual - em que se dizia o seguinte: um candidato tinha um canal de televisão então ele apareceu em 66 reportagens durante a campanha, e o adversário não apareceu em nenhuma. Não é possível que o adversário não tenha criado um fato político que merecesse um minuto na televisão.
Eu penso, Mário Sérgio, que com toda a grandeza que eu tenho dito na minha vida... Eu falo que só cheguei à Presidência da República por causa da liberdade de imprensa. Distorcido ou não, bem ou não, o fato concreto é que como eu acredito na capacidade de discernimento do povo brasileiro - e do povo de qualquer mundo - as coisas acontecem independentemente da má vontade desse ou daquele órgão, desse ou daquele jornalista.



29. Piauí: Agora, por que o senhor criou a TV pública? Por que o seu governo criou essa TV pública?
Lula: Porque eu acho que é necessário.


30. Piauí: Por quê?
Lula: Porque no mundo desenvolvido você tem outras coisas a informar, além daquilo que dá ibope. Eu não posso fazer dos meios de comunicação apenas uma coisa de interesse mercadológico. Nós queremos uma TV pública para informar, para promover debates sobre temas que, certamente, a TV privada não tem interesse porque... Se colocar a televisãozinha na frente do Ibope ali e começar a cair, muda de assunto imediatamente.


31. Piauí: Eu vi uma entrevista ontem, lá, dos presidentes. Parece que é uma coisa chata pacas também, né?
Lula: Pode, mas se você for fazer só as coisas agradáveis, aí você transforma no que é hoje. Você não tem no Brasil hoje, com exceção do Roda Viva, um espaço de debate político no Brasil, os grandes temas da sociedade não tem o que ser debatido. Então, eu acho que a TV Pública cumpre esse papel. Primeiro, ela não se dispõe a disputar um espaço mercadológico com as empresas privadas, mas ela se propõe a disputar e ganhar espaço na informação, no debate dos grandes temas nacionais, que parece que são tabu serem discutidos. Você pode pegar a questão das células-tronco, você pode pegar a questão do aborto, você pode pegar a questão da crise econômica.
Houve um tempo em que neste país tinha debate. Você levava os grandes economistas para um debate. Hoje você não vê mais isso. Hoje, quando você vê uma discussão sobre economia, você vê quem? Um analista de mercado. Mulheres como Maria da Conceição Tavares, como Belluzzo, como Delfim não têm muito espaço na televisão. Você não vê mais os economistas sendo chamados a falar sobre assuntos que são pertinentes aos economistas.
Então, a TV Pública, eu espero - ela está em fase de montagem ainda - que ela cumpra essa função.


32. Piauí: Mas o senhor vê?
Lula: Muito pouco, porque ela não foi feita para mim. Ela foi feita para a sociedade brasileira. Nós estamos numa fase de comprar equipamentos ainda, de montar. Eu penso que até o final do mandato ela vai estar mais ou menos pronta e aí acaba aquela bobagem de dizerem que foi feita uma televisão para o Lula. A primeira orientação que eu dei ao companheiro Franklin foi a seguinte: se a televisão for puxa-saco do governo, ela será chata; se ela for só oposição, ela será chata. Encontrar esse ponto de equilíbrio é como a chuva. A chuva, quando chove demais, os agricultores sofrem; quando chove de menos, os agricultores sofrem. Ela tem a quantidade certa. Então, o que eu quero é isso, é que a TV Pública seja o equilíbrio da maturidade da informação no Brasil, nem ser chapa-branca, mas também não ser chapa-marron.


33. Piauí: Presidente, o que o senhor gosta de ler? Elio Gaspari, o senhor gosta de ler?
Lula: Eu tenho profundo respeito pelo Elio Gaspari, e o acho um dos grandes jornalistas brasileiros, independentemente de gostar dele.


34. Piauí: O Merval?
Lula: Eu acho o Merval, às vezes, um jornalista de um pensamento só, ou seja, contra o governo.


35. Piauí: Clóvis Rossi?
Lula: Eu sou muito amigo do Clóvis Rossi.


36. Piauí: Ali Kamel?
Lula: Eu acho que o Ali Kamel já fez artigos me defendendo do preconceito, mas eu tenho profundo ressentimento da campanha de 2006...


37. Piauí: (incompreensível) de quê?
Lula: ... que eu não expresso no meu comportamento, não expresso nas minhas atitudes, não expresso na minha relação com a imprensa, muito menos com a Globo. É uma coisa que está comigo.


38. Piauí: Jânio de Freitas?
Lula: Sou um admirador do Jânio de Freitas, mesmo quando ele fala mal do governo.


39. Piauí: Diogo Mainardi?
Lula: Eu te confesso que não leio.


40. Piauí: Paulo Henrique Amorim?
Lula: Sempre tive admiração pelo Paulo Henrique Amorim, desde o tempo em que ele era analista econômico da Globo. Eu acho que quando ele foi trabalhar na Bandeirantes ele enveredou por um caminho, assessorado por um jornalista que já não trabalha mais com ele, que cometeram erros crônicos na imprensa. Agora, ele está com um bom programa de debates, que eu acho que... mesmo quando ele critica, você percebe que tem fundamento.
Mário, essa, para mim, é a coisa que eu acho importante. Eu não quero que as pessoas falem bem de mim. Não, não. Eu tenho 63 anos de idade, e eu duvido que tenha um jornalista, no Brasil, que um dia tenha ouvido da minha boca um pedido para que ele fizesse uma coisa favorável. A única coisa que eu gostaria é que houvesse apenas o fato como ele é. Depois, se quiser fazer análise pessoal, faça. Mas eu sou defensor de que o fato seja a razão de ser da imprensa.


41. Piauí: Nassif? Só faltam mais dois nomes.
Lula: Eu gosto muito do Nassif. Independentemente de qualquer coisa, eu acho o Nassif um dos grandes analistas econômicos do País.


42. Piauí: Mino Carta?
Lula: Eu sou suspeito, porque eu sou muito amigo do Mino Carta. Eu sou amigo do Mino Carta antes da Carta Capital, sou amigo do Mino Carta (incompreensível).


43. Piauí: É por amizade que o senhor vai nas festas do Mino Carta e não vai nas festas da Globo?
Lula: Não, é por amizade, é por amizade.


44. Piauí: Na Veja o senhor não vai é por "desamizade"?
Lula: Não, não é por isso, não. Eu acho que é uma questão de respeito ético. Eu aprendi a me respeitar. Então, quando um cidadão aprende a se respeitar, aprende com o que eu aprendi, neste país, eu não posso ir a uma festa de uma pessoa que não gosta de mim, eu não posso. Eu não posso visitar a casa de uma pessoa que passa o tempo inteiro falando mal de mim. E olha que o Mino Carta também faz críticas, mas eu tenho respeito pessoal pelo Mino Carta.


45. Piauí: Em termos de Estado, Presidente, de governo. Já falei isso com o nosso Franklin, aqui, estamos acabando. É legítimo, ou é bom, que o governo tem que ajudar alguns órgãos de imprensa? Dois exemplos concretos: Caros Amigos tem anúncios de estatais, do governo; Carta Capital tem...
Lula: Todos têm, meu filho, todos têm.


46. Piauí: Mas não no sentido... não no proporcional.
Lula: Proporcional, mais. Pegue todas as revistas brasileiras, todos os jornais e todas as televisões, pegue... tem revista que esculhambava o governo e a primeira página de publicidade era do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, e nunca houve nenhum problema, porque não é assim que eu trabalho.


47. Piauí: Não é assim?
Lula: O que o companheiro Franklin estabeleceu, e é correto, é a participação em função da questão técnica. O cidadão vai ter proporcional ao que ele pode ter, nem mais, nem menos. Você não pode ter alguém que represente... que tenha uma audiência de 30% recebendo o equivalente a 70%; como você não pode ter uma que tem 10% recebendo o equivalente a 5%. Então, quando você cria critérios técnicos para poder cuidar da publicidade, obviamente que algumas pessoas que mamavam começam a ficar chateadas.


48. Piauí: Não, eu estou falando outra coisa, em benefício da diversidade, se deveria ter uma ajuda maior a certos órgãos que são mais fracos, como existe na Europa (incompreensível)...
Lula: Eu não sei se tecnicamente tem, eu não sei. Agora, o correto é o seguinte: se tem uma coisa que ninguém pode criticar neste país, é a justeza do comportamento democrático e republicano deste governo. Este governo, este país já teve ministro de Comunicação que baixava na direção de jornais para impor coisas. Eu duvido que no meu governo o ministro da Comunicação ou um secretário da Secom tenha ido a um jornal, a uma rádio, a uma televisão pedir para não fazer tal coisa. A melhor forma, Sérgio, de a gente vencer essa batalha da democracia, é a gente sendo democrata. Não existe outro jeito.


49. Piauí: No geral, o senhor gosta de jornalista ou não? De conversar, ou acha chato pra cacete.
Lula: Não, não.


50. Piauí: Mais chato que político, ou não?
Lula: Primeiro, eu gosto de conversar com todo mundo. Eu acho que tem gente chata na minha família, tem gente chata no meio do jornalismo, tem gente chata no governo, tem gente chata... qualquer lugar tem gente chata e gente boa. Tem gente que é maravilhosa para conversar, tem gente que sabe contar piada, tem gente que não sabe contar piada. Tem gente que só se senta perto de você para conversar de política. Eu, por exemplo, dia de sábado e domingo não quero conversar política, quero conversar sobre futebol, sobre cinema, sobre qualquer outra coisa. Então esse cara que só sabe conversar sobre um assunto termina virando um cara que você não pode chamar para qualquer coisa. Você vai fazer um churrasco, você não vai chamar um cara... Mas eu sempre me dei bem com a imprensa.


51. Piauí: Mas o senhor tem, o senhor sempre... mas o senhor é diferente, assim... O político tradicional brasileiro gosta de cultivar, chamar para casa, "vamos trocar uma idéia"... tudo falso! O senhor não faz isso por que o senhor não gosta?
Lula: Não, eu não faço isso, por honestidade. Eu não faço isso, por uma questão de princípios. Veja, eu tenho grandes amigos aqui. Eu tenho jornalistas aqui que são meus amigos do tempo em que eu era diretor do sindicato.


52. Piauí: Ricardo Kotscho.
Lula: Mas o Ricardo não é... não vamos ver o Ricardo como jornalista porque já ultrapassou. Mas eu tenho companheiros aqui que eu já dormi na casa deles. Agora veja, eu sou o Presidente da República. Enquanto eu for Presidente da República, não é correto e não é prudente a gente permitir uma certa intimidade, porque isso estabelece uma promiscuidade, eu não quero. Isso é bom para o jornalista e é bom para mim. Porque daqui a pouco está o jornalista achando que ele tem informações sigilosas do presidente, e está o presidente achando que tem um jornalista que é informante dele. Aí não dá certo.
Eu prefiro manter assim. Eu trato todo mundo bem, trato todo mundo com muito carinho, mas eu acho que cada um sabendo qual é o seu papel.


53. Piauí: Mas a minha impressão é de que o senhor não gosta muito de jornalista, no que faz muito bem, mas é uma coisa... O senhor gosta... de economista o senhor gosta?
Lula: Devia ser o contrário. Deixa-me falar uma coisa para você. Eu fui freqüentador, você está lembrado disso, eu fui freqüentador do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo durante anos, anos e anos, quando o [Sindicato] dos Jornalistas foi um espaço de debate, até 1979, 1980. Mas eu sempre me dei bem com a imprensa em qualquer lugar. Quando é que eu comecei a ter uma cisma maior com a imprensa? Quando uma vez eu fui a Teófilo Otoni, se não me falha a memória, e um cidadão faz uma pergunta para mim e eu respondo a pergunta em off, e ele fala para mim: "jornalista não tem off". E publica uma coisa eu diria insana. Não vou nem voltar ao assunto. Então eu fiquei mais comedido em dizer determinadas coisas.


54. Piauí: O senhor não trabalha com off, não? Eu acho que nunca...
Lula: Eu não gosto, eu não gosto. Se tem que dizer, diga. Se tem que dizer, diga. Por que eu vou dizer para você e falar "não publica"? Quando eu disser para você "não publica" eu estou dizendo para você "porra, aqui tem uma coisa boa, mas vai firme". Então eu prefiro... obviamente que quando eu não for mais Presidente da República e não tiver mais a responsabilidade institucional do cargo, eu poderei (incompreensível).


55. Piauí: Pelo que eu entendo, presidente, pela observação que o senhor falou do fim de semana. No fim de semana, pelo que eu entendo, o senhor se isola. O senhor não encontra nem com político, nem com jornalista, nem com ninguém, só fica lá com o seu acupunturista, eu acho, não é?
Lula: Às vezes.


56. Piauí: Joga carta, anda com a Dona Marisa...
Lula: Ás vezes eu fico com a Marisa, às vezes eu pesco com a Dona Marisa... Sabe por que? É apenas precaução, apenas precaução. O mandato parece longo, mas é curto. Então veja, eu estou aqui há seis anos. Eu nunca fui a uma festa, eu nunca fui a um restaurante, nunca fui a um aniversário, eu nunca participei de nenhuma atividade. Para não dizer que eu fui a duas festas, eu fui a duas. Eu fui a uma dos 60 anos do Pão de Açúcar em São Paulo, a convite do Abílio Diniz, terminei não jantando, e fui a uma aqui esta semana, eu e o José Alencar, dos 60 anos da Andrade Gutierrez. Foram as duas coisas a que eu fui nestes seis anos de governo. Não vou nem em aniversário de companheiros.


57. Piauí: E por que essas duas, presidente?
Lula: Essas duas porque são simbólicos 60 anos.


58. Piauí: Não é pelo Abílio Diniz, ou por (incompreensível)?
Lula: Não, é porque são 60 anos de empresas, e eu acho importante uma empresa que dura esse tempo inteiro. Mas aqui eu tenho evitado ir até a aniversário de companheiros. Ah, mas vai ter o aniversário do Franklin. O Franklin nunca convidou também... Mas vai ter o aniversário do Marco Aurélio e tal, Marco Aurélio vai fazer uma janta. Eu prefiro não ir. Só faltam dois anos para eu terminar meu mandato...


59. Piauí: O senhor se sente solitário no fim de semana?
Lula: Não, não... Meu caro, ficar o final de semana sem discutir problema e sem discutir economia, sem discutir política, é uma terapia que eu acho que todo político precisaria aprender a fazer. É assim, eu acho que o exercício da presidência ele é tão importante, é um cargo tão nobre em uma República, que nós precisamos aprender o momento de fazer as coisas, aprender o momento de falar, aprender o momento de ficar quieto, sabe, eu estou no aprendizado. Lamentavelmente, faltam só dois anos para terminar o mandato.
Agora, a vida é essa Mário, a vida é essa. Eu acho que a imprensa tem um papel excepcional aqui no Brasil e em qualquer parte do mundo.



60. Piauí: Mas eu lamento que o senhor não curta mais como o senhor me dava a impressão de curtir. O senhor gostava daquela conversa de... Você viu o que o Juca Kfouri escreveu?
Lula: Não. Eu posso até gostar depois da Presidência, mas enquanto eu estou na Presidência... eu sei de presidentes que levavam editores para sua casa para jantar, almoçar, que às vezes convocavam os principais articulistas para almoçar, para jantar, eu não gosto de fazer isso.


61. Piauí: O senhor se sente injustiçado pela imprensa ou não?
Lula: Não.


62. Piauí: Não? (incompreensível)
Lula: Não. A história é que vai julgar. Vocês me julgaram. Um dia se você escrever um livro você vai dizer o que você acha que a imprensa fez comigo. Mas eu não me queixo. Eu aprendi na vida a não me queixar, meu caro. Não tem espaço para eu ficar chorando aqui. O Franklin está comigo já há algum tempo. Nunca cheguei para ele e falei: você liga para fulano, que (incompreensível). Cada um de nós é responsável pelo que faz. Todos nós temos gente de olho na gente. Todos nós temos gente de olho na gente. Então, é com essa tranqüilidade que eu tento governar o País. Se alguém acha que vai escrever um artigo "descendo o pau" e que eu vou ficar nervoso, que eu vou ficar com azia, que eu vou...esqueça.


63. Piauí: Por exemplo, me falaram que o senhor ficou chateado, não com a revista, a revista publicou um longo perfil do Zé Dirceu. Mas que o senhor ficou chateado, primeiro com o Zé Dirceu, e depois com a revista por ter feito aquilo.
Lula: Com a revista não. A revista fez o que ela se propôs a fazer. Eu sei também que o Serra não topou fazer.


64. Piauí: Sabe?
Lula: Não topou fazer.


65. Piauí: Por causa do senhor.
Lula: Eu acho uma loucura alguém que exerce um cargo político ficar uma semana, totalmente desnudado, diante de um jornalista, porque podem acontecer coisas muito agradáveis e podem acontecer coisas desagradáveis.


66. Piauí: E ter visão política, Presidente. Eu comecei a conversa falando que eu passei uma semana com o senhor. O senhor muito afável, muita piada, muita (incompreensível), bebemos, não sei o quê, (incompreensível) fomos de Porto Alegre ao Recife de jatinho, o senhor não abriu a guarda em nenhum momento. Eu escrevi uma matéria na Folha de São Paulo, que eu não pude dizer o...
Lula: Mas eu não acho que a revista está errada em querer fazer isso. Eu acho que está errado o cara que se expõe a isso. Porque o cara acha que vai passar por algumas situações e o jornalista vai esconder. É errado esconder. A liberdade da informação que eu defendo é essa. Se eu um dia falar: Mário Sérgio, você vai andar comigo um dia por aí, e um cara me "taca" um sapato, mesmo que não tiver a televisão, você tem que dizer: um cara "tacou" um sapato no Presidente. O que não pode é, se não "tacou", você dizer: "olha, houve intenção..."


67. Piauí: Que um cara com sapato... estava no pé, mas...
Lula: Ontem, quase que eu tiro o sapato para jogar na imprensa. Agora é isso. Eu acho, Mário, eu acho que... Primeiro, um dia, essas coisas acontecem...um dia nós vamos analisar no Brasil o seguinte: nós tivemos duas experiências ricas neste país. Nós tivemos a primeira experiência do primeiro mandato do Fernando Henrique Cardoso, o que foi uma experiência de muito sucesso do Plano Real, uma experiência muito rica do processo de privatização do País. Parece que o chamado neoliberalismo tinha chegado ao ápice, ao Pico do Himalaia. Então, foram quatro anos de pensamento único, em que não havia espaço para você contrariar.
No meu mandato, eu acho que nós vivemos um outro período. Quatro anos de pensamento único, mas ao contrário. Isso um dia vai merecer uma análise. Quem sabe, o Marco Aurélio, quando voltar para a universidade vai fazer uma análise do que foi isso.



68. Piauí: Jornalisticamente, têm duas coisas no seu governo até agora que são, aí merecem... o negócio do mensalão, como é que surgiu isso, como é que foi coberto, como é que acabou? E a questão Daniel Dantas. São dois casos, jornalisticamente, Presidente, que ainda são muito misteriosos.
Lula: Eu acho...


69. Piauí: Sabe, é uma coisa que...
Lula: Eu acho que... é uma coisa que eu sempre fico imaginando. Nós estamos aqui reunidos nesta sala, entra o Marco Aurélio e diz que eu não devo dar entrevista para o Mário Sérgio Conti, porque o Mário Sérgio Conti sai dizendo para todo mundo que paga aos seus entrevistados.


70. Piauí: (incompreensível)
Lula: Aí nós fazemos uma CPI e o Marco Aurélio confessa que não tem prova nenhuma contra o Mário Sérgio. Ainda assim, eu puno o Mário Sérgio.
Quer dizer, no caso do mensalão, eu espero que a Justiça desvende esse mistério. Porque devem ter tantos milhões de páginas ali. Então veja: o grosso...eu fico olhando a cassação do Zé Dirceu. A dele próprio. O acusador é cassado porque não provou a acusação e, ainda assim, o Zé Dirceu é cassado. Quer dizer, eu não sei, juridicamente, qual o fundamento disso. Mas a impressão que eu tenho é de que foi uma cassação eminentemente política. Eu não acho que isso seja bom para o País, judicializar a política. Eu acho isso muito ruim, isso não é bom. Eu acho que seria melhor que o Congresso resolvesse os seus problemas sem ideologia, ou seja, as discussões serem mais profundas para que a gente não banalize a atividade política, que está muito desacreditada.
Qual foi a outra coisa que você falou?


71. Piauí: Daniel Dantas.
Lula: Daniel Dantas, você tem uma investigação. Essa investigação está desde 2003, 2004, se não me falha a memória. Desde 2004. Isso é um processo. Vai indo, vai indo, vai indo. Qual é o papel do governo? É apenas criar as condições para que a investigação seja feita. Na hora em que ela for feita, quem estiver dentro que pague o preço. Ou quem estiver dentro e for inocente, que seja inocentado.


72. Piauí: Mas é tão confusa a situação...
Lula: Pois é, por isso é que precisa de uma grande... É por isso que demorou...


73. Piauí: Mas o delegado parece ser...
Lula: É por isso que demorou para ser investigado, é por isso que teve uma nova comissão estudando o inquérito, porque não há interesse de o Estado brasileiro contribuir para punir quem quer que seja, sem dar a essa pessoa o direito da mais irrestrita defesa. A pessoa tem que se defender. Tem gente que não gosta, tem que gente que acha "não, tem que pegar e condenar logo". Não, eu sou favorável a que a gente utilize todos os mecanismos possíveis para que a pessoa tenha o direito de se defender. Até que vai chegar um momento em que não tem mais, a pessoa será condenada ou absolvida. É assim que precisa ser.
Por isso é que um presidente da República não tem o direito de ficar querendo que aconteça isso ou não querendo que aconteça aquilo. A única coisa que nós temos o direito de querer é que as coisas sejam feitas da forma mais justa possível.


74. Piauí: Sim, mas a coisa vem aqui pegando, pegaram até o Gilberto aqui, Presidente. Há inquéritos que surgem que nem lei (inaudível)...
Lula: Mas quando esses inquéritos começam a não dizer nada, quando você começa a fazer uma manchete, telefonema grampeado, e você vai escutar o que estava no telefone e não tem nada, aí você percebe que começa a banalizar as coisas que podem ser tratadas com mais seriedade. Você se esquece que foram tirar um doleiro preso para fazer julgamento do Márcio Thomaz Bastos. Daqui a pouco vão tirar o Fernandinho Beira-Mar para te julgar. Quando isso começa a acontecer, as coisas que poderiam ser tratadas com seriedade começam a ser banalizadas. Então, você pode ficar tranqüilo que quem sentar nesta cadeira aqui tem que agir, sobretudo, com muita, mas com muita consciência e tomar decisões de forma muito bem pensadas.


75. Piauí: Última pergunta, Presidente. O senhor, depois de seis anos aqui, sente que o presidente tem mais ou menos poder do que o senhor imaginava? O presidente pode mais do que o senhor imaginava ou não pode porque é muita burocracia, porque o Brasil é muito confuso? Como é que é isso na sua cabeça?
Lula: Deixe-me lhe contar uma coisa. Eu comparo o presidente da República a um trem. Eu sou a locomotiva, a máquina pública é a estação. Trem passa um monte ali, fazem barulho, soltam fumaça, apitam, buzinam, vão embora, e a máquina está impávida ali no seu lugarzinho, às vezes não muda nem de cor. O Brasil é um país engraçado porque nós temos uma Constituição parlamentarista e um regime presidencialista. E esse é o problema de quem é oposição e pensa que nunca vai chegar ao governo. Nós fizemos uma Constituição, e o PT tem responsabilidade em algumas coisas...


76. Piauí: Não votou...
Lula: O PT não votou porque queríamos uma mais avançada ainda, mas depois assinamos. Eu acho que hoje o presidente da República tem muito menos poder do que, por exemplo, na época do Juscelino. Não vou nem falar dos militares, estou falando dos democráticos eleitos. O Juscelino se fosse presidente da República hoje e pensasse em mudar o [Governo do] Rio de Janeiro para Brasília, ele ainda não teria conseguido licença prévia para fazer a pistazinha para o seu teco-teco pousar aqui. O Meio Ambiente, ou o Ministério Público, ou o Tribunal de Contas, ou o Poder Judiciário, ou quem tivesse perdido a licitação...


77. Piauí: Presidente, muito francamente, isso é bom ou é ruim? Então quer dizer que Brasília poderia ver (incompreensível).
Lula: Eu acho que tem duas coisas importantes. Primeiro, que o País tenha se dotado de amplos mecanismos de fiscalização é bom, é correto e é necessário. Agora, que esses mecanismos de fiscalização sejam a razão de você, muitas vezes, demorar dois anos para começar uma obra, é ruim. Veja uma coisa, num mandato de quatro anos, qualquer que seja o presidente da República, se ele começar uma hidrelétrica, ele não termina ela. Se ele pegar uma estrada de 2 mil quilômetros, entre pensar, fazer o projeto, contratar, fazer licitação, conquistar a licença prévia, vai metade do tempo de construção. E aí começa o processo de judicialização, ou seja, alguém da sociedade entra com uma queixa popular, o Ministério Público acata, o Ibama ainda embarga.
Então tem um processo muito moroso. Como fazer para que as coisas tenham a mesma seriedade de fiscalização e, ao mesmo tempo, que a gente não perca... Hoje, quando você faz licitação, quando o Tribunal de Contas está concordando, quando o Ministério Público está concordando, quando as ONGs estão concordando, quando o Ibama já deu licença, quando o dinheiro está depositado no caixa para começar a fazer a obra, sabe o que acontece? Uma empresa que perdeu a licitação entra com um processo, e às vezes leva um ano, um ano e meio, e a obra não sai.
Eu acho que o País não pode esperar por isso. Então, era preciso... eu espero que tenha bastante coisas de mudança lá, tem projeto de mudança da lei de licitação, alguma coisa para tornar... Há quanto tempo está se fazendo aquele Anel Viário em São Paulo? Cada dia tem uma coisa... Então, tudo isso eu acho que contribui para o Custo Brasil, as coisas demorarem muito.
Então, eu acho que o presidente da República tem menos poder do que já teve neste país, fora o período militar, mas no período democrático. Acho que a Constituição de 1988 diminui o poder do presidente da República e aumenta o poder do Poder Legislativo e das instituições, como Ministério Público. Acho que isso é bom. Agora, é só encontrar o caminho do meio para que essa necessidade toda de fiscalização não seja a razão do impedimento de construir as coisas que precisam ser construídas no Brasil.


78. Piauí: Mas o senhor está gostando de ser presidente, não é?
Lula: Eu, sinceramente, acho que...


79. Piauí: O senhor não gostava de ser presidente do Sindicato, não gostou de ser deputado...
Lula: Parece que o povo está gostando mais do que eu.


80. Piauí: Porque o senhor é um dos 80...
Lula: É que eu tenho, Mário... exercer o papel de presidente é complicado.


81. Piauí: Mas é bom.
Lula: O cerceamento da liberdade individual da pessoa é total. Agora, qual é o prazer? O prazer é que você passou a vida inteira dizendo que era possível fazer algumas coisas, e quando você chega ao governo, começa a realizar. As coisas começam a acontecer e começam a ter o reconhecimento da sociedade. Eu acho que é isso a coisa prazerosa do exercício do poder.


82. Piauí: E a frustração, Presidente? O que o senhor achava que dava para fazer mais...
Lula: Você sempre vai achar que dava para fazer mais. O cara que marca um gol, achava que poderia ter feito o segundo; o cara que ganhou uma medalha de ouro, acha que poderia ganhar a segunda. Um governo, quando termina, ele vai falar "puxa, por que eu não fiz aquilo, por que eu não fiz aquilo?" Não fez porque não foi possível fazer.
Nós tivemos uma visão do segundo mandato, que eu acho que é uma coisa consagradora. Eu sempre tive medo do segundo mandato, e dizia publicamente: eu tenho medo do segundo mandato porque você pode perder a motivação, porque pode virar mesmice, porque pode...
Quando nós pensamos em lançar o PAC, a gente pensou em lançar o PAC ainda em 1986. Depois, chegamos à conclusão... Não, em 2006. Depois chegamos à conclusão que a gente não poderia misturar o PAC com as eleições, porque ele perderia força. Então, lançamos o PAC no dia 22 de janeiro de 2007. Esse PAC tem obras e dinheiro até o dia 31 de dezembro de 2010. Portanto, o PAC foi uma coisa que deu ao governo um aprendizado de agilidade e a descoberta que a gente faz das coisas, porque quando você não tinha dinheiro, todo mundo dizia "não tem dinheiro, não tem dinheiro". Aí, quando você tem dinheiro, você percebe que as prefeituras não tem projeto executivo, não tem projeto básico, você percebe que os estados não têm projeto. Então, foi a partir do PAC que nós começamos a fazer tudo isso.
Nós lançamos o PAC. Eu determinei para a Dilma "agora eu quero que você chame, primeiro, a partir do governo federal, quais são as cidades e os estados que têm maiores problemas. Vamos pegar do principal problema para o menor problema. Palafitas, favelas, nós temos que atacar isso com rapidez". Então, chamava aqui o governador José Serra com os prefeitos das cidades mais problemáticas, o governador do Rio de Janeiro com os prefeitos das cidades mais problemáticas. Com base nessas conversas, nós levantamos os principais projetos para começar a trabalhar projeto básico, projeto executivo. Levou um ano entre você tomar decisão, reunir, preparar projeto para você começar a executar.
Então, o ano de 2009 será um ano em que teremos muitas obras em execução e em fase de acabamento no Brasil. Em 2010 será a conclusão de grande parte das obras do PAC, e aí nós vamos preparar um outro PAC. Nós vamos anunciar para o Brasil um novo planejamento que pode ser seguido ou não por quem vier depois de mim. Se eu conseguir fazer a minha sucessão, certamente a pessoa seguirá o segundo PAC.


83. Piauí: Eu pensei que o senhor ia dizer "sucessora" e o senhor fala em sucessão, hein?
Lula: Eu falei sucessão porque eu estou pensando ainda na minha sucessão. Na verdade, é isso, eu acho que a Dilma tem todas as condições. Obviamente, o PT tem que discutir isso...


84. Piauí: Mas está indo para ela, né?
Lula: Mas eu acho que a Dilma tem todas as condições de ter uma qualificada disputa com quem quer que seja, e tem condições de ganhar as eleições. Vamos ver se... o debate, precisa construir aliança política, que é difícil, precisa conversar com todos os companheiros, de todos os partidos.


85. Piauí: O senhor a conhece desde quando, Presidente? Não é de muito tempo, é mais recente, né?
Lula: É engraçado. O negócio da Dilma comigo é muito engraçado. Eu tinha... Eu sempre tive assessoria para o setor energético, e mais ou menos em junho... eu sabia que a Dilma era secretária do Olívio Dutra, mas não tinha muito contato, até porque ela era do PDT, se não me falha a memória.


86. Piauí: É, PDT.
Lula: Aí o meu grupo que cuidava de energia, quem cuidava era o Pinguelli. Então, a gente tinha a cada ano, três, quatro reuniões com vários engenheiros do setor energético, e já próximo de 2002, aparece uma companheira com um computadorzinho na mão lá. Começamos a discutir, começamos a discutir, e eu percebi que ela tinha um diferencial dos demais que estavam ali porque ela vinha com a praticidade do exercício da Secretaria de Minas e Energia do Rio Grande do Sul. Aí eu fiquei pensando: eu acho que já encontrei a minha ministra aqui. No primeiro contato que houve, houve uma certa negociação com o PMDB para o Ministério de Minas e Energia e eu disse: para esse lugar aqui vai a companheira Dilma. Foi assim, foi uma coisa muito rápida. Ela se sobressaiu em uma reunião que tinha 15 pessoas...

87. Piauí: Pela objetividade...
Lula: Pela objetividade e pelo alto grau de conhecimento do setor. Então foi assim que ela apareceu no meu governo.

88. Piauí: Ótimo, Presidente. Muito obrigado. O senhor vai encontrar com o Raúl Castro, não é?
Lula: Raúl Castro.

89. Piauí: O outro era melhor, né? Vou fazer intriga aqui.
Lula: Eu gosto dos dois.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

PT-MA incomoda WR

O PT-MA, anti-sarney e em defesa do Governo Jackson Lago, incomoda muita gente... incomoda tanto que vale tudo para tirar o controle do partido da atual direção, sob o comando de Dutra-Terezinha-Augusto-Marcio Jardim-Bembem-Valdinar-e companhia. Vale até IN-TER-VEN-ÇÃO !

Pois é. Nada de ganhar no voto, derrotar nas urnas nas eleições internas e etc etc. "PT do Maranhão? Só com intervenção", ensina WR (comentando em seu blog...). Muy democrático!!

Walter Rodrigues externa o que talvez alguns petistas não têm coragem de dizer: não dá no voto, vai no tapetão... parece até aquele grupo do outro lado da ponte!

Zé abre o verbo no Estadão


O principal problema do Zé Dirceu é que, na sua ação política, os fins justificam os meios... vale, desta forma, para eleger Lula - presidente, deixar o PT-Maranhão de joelhos para o Sarney, e entregar o Maranhão para Roseana. Foi o que ele fez enquanto controlou o partido e exerceu o cargo de Ministro da Casa Civil (lembremos que, em 2003, de 54 cargos federais, ele os entregou todos aos Sarneys, exceção 03 que ficaram com o PT...).

Felizmente, o PT-MA foi de aço e "vergou mas não quebrou" sob esse período... Mas vale a pena ler o Dirceu fora do poder, ele ainda analisa bem os passos dados pela direita, embora nem sempre aconselhe bem os passos a serem dados pela esquerda, e pelo PT.

A entrevista é do Estado de São Paulo, recebida pelo blog do amigo Bruno Rogens - da juventude petista.



Estado - Três anos depois de ser cassado, o senhor ainda pensa na possibilidade de anistia?
José Dirceu - Depende. A rigor eu tenho direito à anistia, porque a Câmara dos Deputados me cassou sem provas. Fez uma cassação política, mas não no sentido que os deputados dão, de que uma cassação sempre é política. É lógico que é política, mas no meu caso, formou-se uma maioria, independentemente de eu ser culpado ou não, o que evidentemente é inaceitável. É uma ilegalidade e a Constituição me garante a verdade, a presunção da inocência, a não culpabilidade. Então, eu poderia sim pedir a anistia. Mas tomei a decisão de não fazê-lo até ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal. E tenho certeza que a absolvição vai acontecer. Não tenho medo do julgamento e espero ser julgado o mais rápido possível para que eu possa pedir a minha anistia. Se o STF der sinais ou provas que só vai julgar em 2013 ou 2014, ou seja, 8 ou 9 anos depois que fui acusado de chefe de quadrilha e corrupto, evidente que vou pedir anistia. Até porque acredito que tenho esse direito.
Estado - Qual seu projeto para retomar suas atividades políticas?José Dirceu - Faço atividade política, nunca deixei de fazer. Faço ou para me defender, ou para participar como militante da vida interna do PT, ou ainda como cidadão, como profissional. Participo do debate político do País com o meu blog (http://www.zedirceu.com.br/), com entrevistas, palestras. Trabalho como advogado e consultor, sempre tendo em vista um projeto de desenvolvimento para o País. Não trabalho como advogado e consultor olhando só a minha atividade profissional e a minha sobrevivência. Gostaria de voltar plenamente à atividade política, mas não tenho projetos sobre o que vou fazer. O meu projeto agora é me defender, provar minha inocência.
Estado - Durante a Satiagraha, o senhor reclamou de grampo e de invasão em seu escritório. Ainda acha que seus passos estão sendo monitorados por órgãos do governo?José Dirceu - Meu caso - e agora tenho a visão de tudo o que aconteceu esse ano - é escabroso, um case mais do que um caso. No começo do ano, soube pela imprensa que o sigilo do meu telefone tinha sido, por autorização judicial de um juiz (Fausto de Sanctis), interceptado a pedido do promotor público do caso Satiagraha. Era o mesmo promotor do caso MSI Corinthians, como também o delegado é o mesmo na Satiagraha e no caso MSI Corinhians (Protógenes Queiroz). Pois bem, até hoje - e basta olhar o inquérito para ver - não há nenhuma fundamentação legal para interceptação telefônica. Mas houve a interceptação, e não só a minha, como a do meu advogado, do assessor que faz a minha agenda, do advogado do escritório a mim associado em Brasília, de um outro assessor meu em Brasília e da Evanise Santos, minha companheira. Essas interceptações telefônicas estão caracterizadas como abuso de autoridade. Eu, infelizmente, não representei contra o juiz no Conselho Nacional de Justiça naqueles meses de abril e maio, quando isso veio a público. Fiquei sabendo pela imprensa, e basta ler o inquérito do MSI Corinthians, para ver que não há nenhuma razão. Na verdade, o objetivo deles já era a Operação Satiagraha. Não sei por que razão, mas toda a investigação da Satiagraha demonstra isso. Inclusive, não há uma única vez a citação do meu nome, e olha que é quase um ano e meio de investigação. No relatório do inquérito eu sou citado naquilo que é uma verdadeira fraude do delegado. Então, o HD, os e-mails e o relatório (da investigação) mostram que havia um objetivo pré-determinado, e depois se procurava encaixar os fatos ao objetivo de me prender e transformar num grande evento sensacionalista a minha prisão. Isso quando eu não tenho nada a ver com a Operação Satiagraha, com o Oportunity e nem com o Daniel Dantas. A própria investigação deles prova isso. Tenho a meu favor que todas as investigações feitas até agora a meu respeito me inocentam.
Estado - Qual a sua relação com o presidente Lula? Se falam, se visitam? Quando foi a última vez que conversaram?José Dirceu - Minha relação com o presidente Lula é de companheiro, de amigo e de um ex-ministro, ex-presidente e ex-deputado do PT. Não é a mesma relação que eu tinha antes com ele, uma relação de trabalho, de dia-a-dia, de construção de um projeto. Eu encontro o presidente quando ele sente que existe necessidade. Não o tenho visto com freqüência.
Estado - É verdade que políticos, governadores e integrantes do próprio PT procuram o senhor para discutir assuntos de interesse do governo?José Dirceu - Não diria que me procuram. Mas diria ser natural, porque nunca parei de atuar e militar politicamente. Para entender as relações que mantenho com governadores, parlamentares, senadores, deputados, prefeitos e dirigentes do PT é preciso lembrar que militei no partido de 1980 a 2008. São 28 anos, não é pouca coisa.. É mais do que natural que eu continue militante. Não é porque não sou mais deputado, nem ministro e porque sou acusado injustamente de corrupto ou chefe de quadrilha, que deixo de ser militante. Não se pode apagar 40 anos de vida política. No fundo, essa questão se eu mantenho ou não mantenho relações políticas com vários políticos é um jogo dos próprios setores da direita, da mídia, para me manter interditado, para eu não fazer política.
Estado - Qual a possibilidade, na sua avaliação, de a ministra Dilma Rousseff emplacar como candidata do PT em 2010?José Dirceu - Grande. Ela, na verdade, a cada mês que passa, conquista a adesão de militantes e dirigentes do PT. Cada dia é mais conhecida no País. É a candidata do presidente Lula, do PT e tem grandes chances de ir para o 2ª turno. As pesquisas já estão mostrando isso. O mais provável é que nas próximas pesquisas, depois do Carnaval, a Dilma esteja já com a mesma votação do Ciro Gomes (PSB) e do Aécio Neves (PSDB). Eu acredito que uma candidata apoiada pelo PT e pelo Lula, por uma coalizão que inclua o PSB, PC do B, PTD, o PR - a legenda que indicou José Alencar para ser o vice do Lula duas vezes - e o PMDB tem grandes chances para ir ao 2º turno. Os tucanos se comportam como se o Serra (o governador de São Paulo José Serra) já estivesse eleito, mas essa história está distante da realidade. Primeiro, o Serra tem que disputar com o Aécio; segundo tem que conquistar Minas e o Rio, porque o Nordeste e o Norte ele não vai conquistar; terceiro, São Paulo e Minas, portanto o Serra, serão tão ou mais afetado do que o País pela crise em nível nacional. Minas será afetada por causa da indústria siderúrgica, de mineração e automobilística, e São Paulo pelo serviço financeiro, comércio, serviços gerais, e construção civil. Esse raciocínio de que "o Lula vai ser afetado pela crise", é um jogo da mídia, um jogo de palavras. Por que o Lula vai ser afetado e os governadores não? Não vão ser afetados porque a mídia vai protegê-los e atribuir ao Lula a responsabilidade pela crise? Com esse raciocínio é isso que estão dizendo. Porque fato por fato todos serão afetados pela crise: prefeitos, governadores e presidente da República. A arrecadação vai cair para todos, os investimentos vão ser menores para todos, o desemprego vai valer para todos - a não ser que a responsabilidade - e tudo indica, é o que quer a imprensa - seja só do Lula e não dos governadores e dos prefeitos. Eu não vejo por que nós não possamos vencer essas eleições de 2010. Na verdade, nós estamos no governo. Eles é que têm de ganhar a eleição. E o provável é que nós vençamos e não eles.
Estado - O senhor vai participar na campanha?José Dirceu - Não posso dizer o que farei em 2010. O que posso dizer é que vou dedicar todo o meu tempo e esforços, toda a minha inteligência, energia e experiência para ajudar o PT e o Lula a continuar governando o Brasil. Como vou fazer, com qual intensidade e em que nível, depende das circunstâncias e da conjuntura política.Estado - O senhor acha que o Gilberto Carvalho é o melhor nome para presidir o PT?José Dirceu - Seria uma excelente solução. O Gilberto já militou no PT, foi secretário nacional do partido, já ocupou cargos de sua direção em vários níveis, militou no movimento popular, e nas Comunidades Eclesiais de Base. E tem essa experiência extraordinária de governo, de ter sido secretário do presidente nos últimos seis anos. Ninguém melhor, nem mais do que ele está preparado para ser presidente nacional do PT. É um nome excepcional, seria uma grande solução.
Estado - O senhor acredita que a disputa em 2010 será polarizada entre Dilma e o governador José Serra?José Dirceu - Não necessariamente. Hoje não se pode afirmar isso de maneira definitiva. A tendência é essa - o Serra ser candidato pelo PSDB, DEM, PP, PPS e talvez o PV; e a Dilma ser a candidata pelo menos do PT, talvez do bloco PC do B - PDT - PSB (se o Ciro não sair candidato por esse último) com apoio, talvez, do PMDB. Outra possibilidade é de o PMDB ficar neutro, ou ter uma candidatura própria. E candidaturas outras têm a do Ciro Gomes e a do Aécio Neves.. A do Aécio tudo indica que não se viabilizará no PSDB. A do Ciro Gomes está com dificuldades para se viabilizar. E tem a Heloísa Helena que pode ser candidata pelo PSOL, mas é uma candidata sem idéia, e como sua candidatura mostrou na eleição de 2006, é uma candidata que tende a ir perdendo os votos, redistribuídos durante o debate e o processo eleitoral, quando o eleitor toma outras decisões.
Estado - A crítica que se faz a esses dois (Dilma e Serra) é que seriam candidatos para assumir e administrar o Estado, mas não capazes de unir a sociedade e o Estado, como o fizeram FHC e Lula. Como avalia isso?José Dirceu - Essa pergunta leva a uma só solução: teremos que dar um terceiro mandato ao Lula. Por ela, o Lula e o Fernando Henrique têm de ser candidatos. Não é assim. Evidentemente, o Serra tem história e lastro para ser presidente da República. Uma coisa é eu não votar nele e querer eleger a Dilma Rousseff , outra é ele e a Dilma terem ou não lastro para saírem candidatos. E isso eles têm. Os dois têm lastro para serem candidatos.
Estado - De que o senhor vive hoje? Quais são seus rendimentos?José Dirceu - Dos mesmos rendimentos dos quais vive a jornalista que me pergunta. Eu trabalho como ela trabalha, 8, 10, 12 horas por dia como advogado e consultor. São profissões como é a de jornalista, não há nenhuma diferença. Trabalho, às vezes, inclusive, nos fins de semana. E eu não mudei o meu padrão de vida. A minha vida continua absolutamente igual todos esses anos.
Estado - Acha que o presidente Lula mudou muito desde que chegou a Brasília e assumiu o poder?José Dirceu - Mudou. Muito. Primeiro, porque é presidente da República. Segundo, porque é um líder internacional, um estadista. O mundo reconhece isso. Terceiro, porque ele adquiriu experiência na Presidência da República. Ninguém passa seis anos por esse cargo em vão.
Estado - O senhor se considera um ministro sem pasta?José Dirceu - Não. Primeiro, eu não detenho poder nenhum. Eu tenho experiência, relações, solidariedade, companheiros, liderança ainda no PT, apoio no País. Todos sabem que se eu fosse candidato a um cargo eletivo, dificilmente eu não me elegeria. Agora, eu não tenho poder, nem sou membro do governo, nem sou mais dirigente do PT, nem mais membro do Parlamento. Eu não sou um ministro sem pasta. Sou o José Dirceu e na medida em que represento uma parte da história da esquerda brasileira, da luta contra a ditadura, da resistência armada, da luta na clandestinidade, uma parte da construção do PT, nesse sentido eu tenho uma representatividade para participar da vida política do país e ajudar o PT, o governo e a esquerda. Isso não significa que eu tenho poder.